sábado, 15 de maio de 2010

Pedagogia Socrática




• “Douta Ignorância” (sábia ingorância) – “só sei que nada sei”, o primeiro passo para o conhecimento é o reconhecimento de que se é ignorante, e ter vontade de aprender;

• Intelectialismo socrático – muitas vezes pratica-se o mal por desconhecimento do bem, “quem conhece o bem pratica-o, o mal resulta do desconhecimento do bem”;

• Acção Educativa: diálogo socrático (descoberta guiada) – questionar conduzindo o aluno na procura por si próprio da resposta;

• Combate o relativismo sofista – os sofistas acreditavam em várias morais e Sócrates veio defender apenas uma -> ética <- introdução de que todas as morais devem ser respeitadas e aceites, se conferirem liberdade a cada um dos seus membros;

• Conhecimento Introspectivo - “não sou ateniense nem grego, mas sim um cidadão do mundo” , “conhece-te a ti mesmo”, só podemos conhecer o outro quando nos conhecemos a nós próprios;

Na realidade o aprendizado se faz presente em cada instante , daí nunca podermos dizer que tudo sabemos , quando na realidade o nosso conhecimento, não passa daquele que nos aproxima da nossa afinidade e longe de deter respostas para a eternidade do conhecimento.
O mal advem quase sempre da ignorãncia de valores educativos, no entanto todos detemos livre-arbitrio , portanto capacidade e opção de escolha.
Claro que o próprio tempo no aprendizado no ambito da solicitude evolutiva tem sempre um cunho de fragilidade entre o que é razão e o que é contraste.Muito dos erros se cometem por omissão, no entanto outros e esses na maioria serão por jeito de oportunidade ou complacência do próprio, como meio de auto-proteção, enfim pensando sobrepor a verdade com a hipocrisia e egoismo exacerbado.
Esse sim um dos cunhos da imensidão de flagelos interiores de devassidão das almas.
Depois a enorme confusão com as varias estruturas da relatividade emocional, sentimental e pratica, porque o complexo experiencial e conceito de liberdade estão ao nivel das carencias de cada Ser.Nós sabemos , que somos , porém não sabemos o que queremos ser, tudo porque o materialismo , torna mais relevante tudo que se faz pela astucia mediatica e não pela consciencilização do amor .
Na verdade a pedagogia operacionavel de Socrates é por demais realizadora e consentanea com a razão e bom senso, pois se não nos conhecemos a nós próprios como vamos conhecer os outros?!
É por demais visivel que nem a sociedade , se transforma, sem que o ser o faça também na seu objetivo de vida.

Cravo

Pedagogia enquanto: Filosofia e Ciência




A Filosofia é um fundamento racional, uma reflexão de ideias em situações abstratas e gerais. A pedagogia como filosofia surge em Sócrates, Platão, Kant e dos Sofistas.

A Ciência é ter pensamentos cientificos, é puder comprovar teorias, só o que passa pela experiência é aceite como ciência, implica as várias ciências da educação. A pedagogia como ciência emerge por intermédio de Marc Antoine Julien.

A posição da Pedagogia como ciência da educação surge no século XIX, no Iluminismo. Nesta época procurou-se acabar com o tratamento exclusivamente filosófico dos problemas educacionais com o intuito de ficar mais próximo da ciência; bem como desenvolver uma disciplina liberta dos princípios à priori, isto é, liberta de princípios anteriores à experiência, com necessidade do método experimental; sempre procurando estabelecer leis, permitindo seguir um modelo; recorrer à psicologia, sociologia, biologia, filosofia e outras áreas do conhecimento para ajudar nas justificações e pensamentos.

No entanto a filosofia e a ciência não podem ficar totalmente separadas. Por um lado se Pedagogia inclui somente filosofia, não faz sentido semanticamente uma vez que não tem fundamento cientifico, e por isso não provado. Por outro lado se ficar apenas ligada à ciência fica desmasiado restritiva e inconsequente. Sendo assim é necessário encontrar um meio termo.

A Pedagogia, como Ciência da Educativa:

* Estabelece um método experimental;
* Constitui-se de leis;
* Não se aproxima somente pela filosofia, mas pelas filosofias da realidade no âmbito educacional.

Não fora a vida tomada de regras educativas e regulamentares e viveriamos , num completo desabrochamento de parasitismo, ,onde todos mandam e ninguém se entende.
A Anarquia estaria presente e os valores da vida , da razão e do bom senso estariam sujeitos a ser destituidos do pensamento, mas como não existe causa sem efeito, tudo se processa num regimen mediador educativo, que pasa pelo desenvolvimento moral , espiritual e inteletual.
Daí se afirmar que o estatuto pedagogico terá que passar pela ciência e filosofia;
Diz-me quem és ? De onde vens? Para onde vais? o que fazes aqui?
Aqui se faz presente que só o conhece-te a ti mesmo .sem formalização, mas com continuidade de experiências vividas, se vai acumulando o estatuto inato e crescente de evolução educativo-filosofica " Quem sou eu"?
Logo tudo advem dum sentido concreto e não abstrato, cada individualidade tem o seu estatuto, e ele serve conforme a sua evolução.

Cravo

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Estudo permanente



A educação, segundo a concepção platônica, visava a testar as aptidões dos alunos para que apenas os mais inclinados ao conhecimento recebessem a formação completa para ser governantes. Essa era a finalidade do sistema educacional planejado pelo filósofo, que pregava a renúncia do indivíduo em favor da comunidade. O processo deveria ser longo, porque Platão acreditava que o talento e o gênio só se revelam aos poucos.

A formação dos cidadãos começaria antes mesmo do nascimento, pelo planejamento eugênico da procriação. As crianças deveriam ser tiradas dos pais e enviadas para o campo, uma vez que Platão considerava corruptora a influência dos mais velhos. Até os 10 anos, a educação seria predominantemente física e constituída de brincadeiras e esporte. A idéia era criar uma reserva de saúde para toda a vida. Em seguida, começaria a etapa da educação musical (abrangendo música e poesia), para se aprender harmonia e ritmo, saberes que criariam uma propensão à justiça, e para dar forma sincopada e atrativa a conteúdos de Matemática, História e Ciência. Depois dos 16 anos, à música se somariam os exercícios físicos, com o objetivo de equilibrar força muscular e aprimoramento do espírito.

Aos 20 anos, os jovens seriam submetidos a um teste para saber que carreira deveriam abraçar. Os aprovados receberiam, então, mais dez anos de instrução e treinamento para o corpo, a mente e o caráter. No teste que se seguiria, os reprovados se encaminhariam para a carreira militar e os aprovados para a filosofia – neste caso, os objetivos dos estudos seriam pensar com clareza e governar com sabedoria. Aos 35 anos, terminaria a preparação dos reis-filósofos. Mas ainda estavam previstos mais 15 de vida em sociedade, testando os conhecimentos entre os homens comuns e trabalhando para se sustentar. Somente os que fossem bem-sucedidos se tornariam governantes ou “guardiães do Estado”.


O aprendizado como reminiscência

Platão defendia a idéia de que a alma precede o corpo e que, antes de encarnar, tem acesso ao conhecimento. Dessa forma, todo aprendizado não passaria de um esforço de reminiscência – um dos princípios centrais do pensamento do filósofo. Com base nessa teoria, que não encontra eco na ciência contemporânea, Platão defendia uma idéia que, paradoxalmente, sustenta grande parte da pedagogia atual: não é possível ou desejável transmitir conhecimentos aos alunos, mas, antes, levá-los a procurar respostas, eles mesmos, a suas inquietações. Por isso, o filósofo rejeitava métodos de ensino autoritários. Ele acreditava que se deveria deixar os estudantes, sobretudo as crianças, à vontade para que pudessem se desenvolver livremente. Nesse ponto, a pedagogia de Platão se aproxima de sua filosofia, em que a busca da verdade é mais importante do que dogmas incontestáveis. O processo dialético platônico – pelo qual, ao longo do debate de idéias, depuram-se o pensamento e os dilemas morais – também se relaciona com a procura de respostas durante o aprendizado. “Platão é do mais alto interesse para todos que compreendem a educação como uma exigência de que cada um, professor ou aluno, pense sobre o próprio pensar”, diz o professor Sardi.

Para pensar

Platão acreditava que, por meio do conhecimento, seria possível controlar os instintos, a ganância e a violência. O acesso aos valores da civilização, portanto, funcionaria como antídoto para todo o mal cometido pelos seres humanos contra seus semelhantes. Hoje poucos concordam com isso; a causa principal foram as atrocidades cometidas pelos regimes totalitários do século 20, que prosperaram até em países cultos e desenvolvidos, como a Alemanha. Por outro lado, não há educação consistente sem valores éticos. Você já refletiu sobre essas questões? Até que ponto considera a educação um instrumento para a formação de homens sábios e virtuosos?

Platão educar para crescer



Frases de Platão:

“A educação deve propiciar ao corpo e à alma toda a perfeição e a beleza que podem ter”

“Ao longo dos anos, os antigos encontraram uma boa receita para a educação: ginástica para o corpo e música para a alma”


Platão nasceu por volta de 427 a.C. em uma família aristocrática de Atenas. Quando tinha cerca de 20 anos, aproximou-se de Sócrates, por quem tinha grande admiração. Como a maioria dos jovens de sua classe, quis entrar na política. Contudo, a oligarquia e a democracia lhe desagradaram. Com a condenação de Sócrates à morte, Platão decidiu se afastar de Atenas e saiu em viagem pelo mundo. Numa de suas últimas paradas, esteve na Sicília, onde fez amizade com Dion, cunhado do rei de Siracusa, Dionísio I. De volta a Atenas, com cerca de 40 anos, Platão fundou a Academia, um instituto de educação e pesquisa filosófica e científica que rapidamente ganhou prestígio. Três décadas depois, ele foi convidado por Dion a viajar a Siracusa para educar seu sobrinho Dionísio II, que se tornara imperador. A missão foi frustrada por intrigas políticas que terminaram num golpe dado por Dion. Platão morreu por volta de 347 a.C. Já era um homem admirado em toda Atenas.

Na história das idéias, Platão foi o primeiro pedagogo, não só por ter concebido um sistema educacional para o seu tempo, mas, principalmente, por tê-lo integrado a uma dimensão ética e política. O objetivo final da educação, para o filósofo, era a formação do homem moral, vivendo em um Estado justo.

Platão foi o segundo da tríade dos grandes filósofos clássicos, sucedendo Sócrates (469-399 a.C.) e precedendo Aristóteles (384-322 a.C.), seu discípulo. Como Sócrates, Platão rejeitava a educação que se praticava na Grécia em sua época e que estava a cargo dos sofistas, incumbidos de transmitir conhecimentos técnicos – sobretudo a oratória – aos jovens da elite, para torná-los aptos a ocupar as funções públicas. “Os sofistas afirmavam que podiam defender igualmente teses contrárias, dependendo dos interesses em jogo”, diz Sérgio Augusto Sardi, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. “Platão, ao contrário, pensava em termos de uma busca continuada da virtude, da justiça e da verdade.”

Para Platão, “toda virtude é conhecimento”. Ao homem virtuoso, segundo ele, é dado conhecer o bem e o belo. A busca da virtude deve prosseguir pela vida inteira – portanto, a educação não pode se restringir aos anos de juventude. Educar é tão importante para uma ordem política baseada na justiça – como Platão preconizava – que deveria ser tarefa de toda a sociedade.


O ideal da escola pública

Baseado na idéia de que os cidadãos que têm o espírito cultivado fortalecem o Estado e que os melhores entre eles serão os governantes, o filósofo defendia que toda educação era de responsabilidade estatal – um princípio que só se difundiria no Ocidente muitos séculos depois. Igualmente avançada, quase visionária, era a defesa da mesma instrução para meninos e meninas e do acesso universal ao ensino.

Contudo, Platão era um opositor da democracia – há estudiosos que o consideram um dos primeiros idealizadores do totalitarismo. O filósofo via no sistema democrático que vigorava na Atenas de seu tempo uma estrutura que concedia poder a pessoas despreparadas para governar. Quando Sócrates, que considerava “o mais sábio e o mais justo dos homens”, foi condenado à morte sob acusação de corromper a juventude, Platão convenceu-se, de uma vez por todas, de que a democracia precisava ser substituída.

Para ele, o poder deveria ser exercido por uma espécie de aristocracia, mas não constituída pelos mais ricos ou por uma nobreza hereditária. Os governantes tinham de ser definidos pela sabedoria. Os reis deveriam ser filósofos e vice-versa. “Como pode uma sociedade ser salva, ou ser forte, se não tiver à frente seus homens mais sábios?”, escreveu Platão.

A IGREJA




Durante doze séculos a Igreja dominou, formou a seu talante a alma humana e toda a sociedade. Em sua mão se concentravam todos os poderes. Todas as autoridades residiam nela, ou dela procediam. Ela imperava sobre os espíritos como sobre os corpos; imperava pela palavra, e pelo livro, pelo ferro e pelo fogo. Era senhora absoluta do mundo cristão; nenhum freio, nenhum marco limitava a sua ação. Que fez ela dessa sociedade? Queixa-se da sua corrupção, do seu cepticismo, dos seus vícios. Esquece-se de que, acusando-a, acusa-se a si mesma? Essa sociedade é obra sua; a verdade é que ela foi impotente para a dirigir e melhorar. A sociedade corrompida e céptica do século XVIII saiu de suas mãos. Foram os abusos, os excessos, os erros do sacerdócio que determinaram o seu estado de espírito. Foi a impossibilidade de crer nos dogmas da Igreja, o que impeliu a Humanidade para a dúvida e para a negação.

O materialismo penetrou até à medula, no corpo social. Mas de quem é a culpa? Se as almas tivessem encontrado na religião, tal como lhes era ensinada, a força moral, as consolações, a direção espiritual de que necessitavam, ter-se-iam afastados dessas igrejas que em seus poderosos braços embalaram tantas gerações? Teriam elas deixado de crer, de amar e de esperar?

A verdade é que o ensino da Igreja não conseguiu satisfazer as inteligências e as consciências. Não pode dominar os costumes; por toda parte lançou a incerteza, a perturbação do pensamento, de que proveio a hesitação no cumprimento do dever e, para muitos, o aniquilamento de toda esperança.

Se, no auge do seu poderio, a Igreja não conseguiu regenerar a Humanidade, como o poderia hoje fazer? Ah! talvez, se abandonasse os seus palácios, as suas riquezas, o seu culto faustoso e teatral, o ouro e a púrpura; se, cobertos de burel, com o crucifixo na mão, os bispos, os príncipes da Igreja, renunciando aos bens materiais e tornando-se como o Cristo, sublimes vagabundos, fossem pregar às multidões o verdadeiro evangelho da paz e do amor, então talvez a Humanidade acreditasse neles. Não se mostra disposta a Igreja Romana a desempenhar esse papel; o espírito do Cristo parece cada vez mais abandoná-la. Nela quase não resta senão uma forma exterior, uma aparência, sob a qual já não existe mais que o cadáver de uma grande idéia.

As igrejas cristãs, em seu conjunto, não subsistem senão pelo que nelas resta de moral evangélica; sua concepção do mundo, da vida, do destino, é simplesmente letra morta. Que pensar, com efeito, e que dizer de um ensino que forçou os homens a crer, a afirmar, durante séculos, a imobilidade da Terra e a criação do mundo em seis dias? Que pensar de uma doutrina que vê na ressurreição da carne o único meio de restituir à vida os mortos? Que dizer dessa crença que pretende deverem os átomos do nosso corpo, há tanto tempo dispersos, reunir-se um dia? Em presença dos novos dados que todo dia vêm esclarecer o problema da sobrevivência, tudo isso não é mais que um sonho de criança.

O mesmo acontece com a idéia de Deus. A mais grave censura que se pode irrogar ao ensino das igrejas, incide no fato de haver falseado, desnaturado a idéia de Deus, tornando-a por odiosa a muitíssimos espíritos. A Igreja Romana sempre impôs o temor de Deus às multidões. Havia nisso um sentimento necessário para realizar o seu plano de domínio, para submeter a Humanidade semibárbara ao princípio da autoridade, mas um sentimento perigoso, porque, depois de haver feito muito tempo escravos, acabou por suscitar os revoltados, - sentimento nocivo, esse do medo, que, depois de ter levado o homem a temer, o levou a odiar; que o ensinou a não ver no poder supremo senão o Deus das punições terríveis e das eternas penas, o Deus em cujo nome se levantaram os cadafalsos e as fogueiras, em cujo nome correu o sangue nas salas de tortura. Daí se originou essa reação violenta, essa furiosa negação, esse ódio à idéia de Deus, do Deus carrasco e déspota, ódio que se traduz por esse grito que hoje em dia ressoa em toda parte, em nossos lares, em nossas praças, em nossas folhas públicas: nem Deus, nem Senhor.

E, se a isso acrescentarmos a terrível disciplina imposta aos fiéis pela Igreja da Idade Média, os jejuns, as macerações, o temor perpétuo da condenação, os exagerados escrúpulos, sendo um olhar, um pensamento, uma palavra delituosa, passíveis das penas do inferno, compreendereis que ideal sombrio, que regime de terror fez a Igreja pesar durante séculos sobre o mundo, compelindo-o a renunciar a tudo o que constitui a civilização, a vida social, para não cuidar senão da salvação pessoal, com desprezo das leis naturais, que são as leis divinas.

Há! Não era isso o que ensinava Jesus, quando falava do Pai, quando afirmava este único, este verdadeiro princípio do Cristianismo - o amor, sentimento que fecunda a alma, que a reergue de todo o abatimento, franqueia os umbrais às potências afetivas que ela encerra, sentimento de que ainda pode surgir a renovação, a regeneração da Humanidade.

Porque nós não podemos conhecer Deus e dele aproximar-nos senão pelo amor; só o amor atrai e vivifica. Deus é todo amor e para o compreender é necessário desenvolver em nós esse princípio divino. É preciso cessar de viver na esfera do “eu” para viver na esfera do divino, que abrange todas as criações. Deus está em todo homem que sabe amar. Em amar e cultivar o que há de divino em nós e na Humanidade, é que consiste o segredo de todo progresso, de toda elevação. Escrito está: “Amarás a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo”.

Se tivessem prevalecido os preceitos evangélicos, o Cristianismo estaria no apogeu do seu poder e da sua glória. Eis porque será preciso voltar aos puros ensinamentos de Jesus, se quiserem reerguer e salvar a religião; porque, se a religião do poder tem sua grandeza, maior é a do amor; se a religião da justiça é grande, maior é a do perdão e da misericórdia. Aí estão os verdadeiros princípios e a base real do Cristianismo.

(Léon Denis - Obra: Cristianismo e Espiritismo).

quinta-feira, 13 de maio de 2010

A teoria dos três estados de desenvolvimento moral




Trechos extraídos do Livro Minhas indagações sobre a marcha da natureza no desenvolvimento da espécie humana escrito por Pestalozzi em 1797, (traduzido do original alemão Meine Nachforschungen über den Gang der Natur in der Entwicklung des Menschengeschlechts):

Estado natural

O homem nesse estado é filho puro do instinto, que o conduz simples e inocentemente para todos os gozos dos sentidos.

Estado social

O homem como espécie, como povo não se submete ao poder como ser moral, nem tampouco entra na sociedade e na cidadania para servir a Deus ou amar ao próximo. Ele entra na sociedade e no estado de cidadania para tornar sua vida mais alegre e para gozar tudo o que seu ser animal e sensorial tem que gozar e para que seus dias sobre a terra transcorram satisfeitos e tranqüilos. O direito social não é assim um direito moral, mas apenas uma modificação do direito animal. ( …)
O poder só pode exigir de mim que eu seja um homem social. Ele não pode exigir que eu seja um homem moral. Se eu o sou, sou-o para mim e não para ele. O poder só pode exigir de mim que eu seja um homem moral na medida em que ele mesmo o seja, isto é, se ele não for poder, não se comportar como poder. Só pode exigir de mim, se ele viver a força de sua divindade, não para ser servido, mas para servir e dar a vida para a redenção de muitos. (…)
Simples satisfação é a cota do estado natural. Esperança é a cota do estado social. Não pode ser diferente: toda a estrutura da vida social repousa em representações que basicamente não existem – ela é uma representação. Propriedade, lucro, profissão, autoridade, leis são meios artificiais para satisfazerem minha natureza animal pela escassez de liberdade animal. (…)

Estado moral

Se eu alcançar na minha condição e na profissão tudo o que eu posso alcançar, se minha felicidade está garantida pelo direito, em suma, se eu, no pleno sentido da palavra, for um cidadão e se a palavra de meu país, liberdade – liberdade –, soasse novamente na boca dos homens honestos e felizes, estaria eu então satisfeito no meu íntimo? Deveria pensar que sim, mas não é verdade (…), o direito social não me satisfaz, o estado social não me realiza, não posso permanecer tranqüilo sobre o fundamento da minha formação civil, como não posso permanecer no mero prazer sensual e animal – sou , em todo o caso, através dessa formação, emudecido; na minha alma entraram desconfiança, sinuosidade e intranqüilidade, que nenhum direito social pode desfazer. (…)
Se eu te declaro animal no envoltório do teu nascimento, não coloco o objetivo da tua perfeição nos limites do invólucro da tua origem. Vejo o interior do teu ser como divino, assim como o ser interior da minha natureza (…). Se o homem planta uma árvore ou uma flor, ele a enterra no solo, põe esterco na raiz e a cobre de terra. Mas o que ele faz com tudo isso ao ser íntimo da flor? O material, através do qual a semente se desenvolve, é em toda a natureza infinitamente de menor valor que a semente em si. (…)
Logo vi que as circunstâncias fazem o homem, mas vi também que o homem faz as circunstâncias, tem uma força em si mesmo que pode conduzir de várias maneiras, segundo sua vontade. (…)
Como obra da natureza, sinto-me livre no mundo para fazer o que me agrada e me sinto no direito de fazer o que me serve.
Como obra da espécie, sinto-me no mundo atado a relações e contratos, fazendo e suportando o que essas relações me prescrevem como dever.
Como obra de mim mesmo, sinto-me livre do egoísmo da minha natureza animal e das minhas relações sociais, e ao mesmo tempo no direito e no dever de fazer o que me santifica e o que santifica o meu ambiente.(…)
Como obra da natureza, sou um animal perfeito. Como obra de mim mesmo, esforço-me pela perfeição. Como obra da espécie, procuro me tranqüilizar num ponto sobre o qual a perfeição de mim mesmo não é possível.
A natureza fez a sua obra inteira, assim também faze a tua.
Reconhece-te a ti mesmo e constrói a obra do teu enobrecimento sobre a consciência profunda de tua natureza animal, mas também com a consciência completa da tua força interior de viver divinamente no meio dos laços da carne.
Quem quer que tu sejas, acharás nesse caminho um meio de trazer tua natureza em harmonia contigo mesmo. Queres porém fazer tua obra apenas pela metade, quando a natureza fez a dela inteira? Queres estacionar no degrau intermediário entre tua natureza animal e tua natureza moral, sobre o qual não é possível o acabamento de ti mesmo? – Então não te espantes de que serás um costureiro, um sapateiro, um amolador ou um príncipe, mas não serás um homem.
Não te espantes então de que tua vida seja uma luta sem vitória e que nem sequer te tornes o que a natureza, sem a tua ação, fez de ti – mas muito menos serás um meio-homem civil. (…)
O princípio de que o bem do homem e o direito do homem repousam inteiramente na subordinação das minhas exigências animais e sociais à minha vontade moral é outra maneira de dizer o resultado do meu livro.
Ninguém acreditou mais que Pestalozzi no poder da educação para aperfeiçoar o indivíduo e a sociedade com o seu entusiasmo, influenciou reis e governantes a pensarem na educação do povo.
Em 1782, expressou as usas idéias no seu primeiro livro: Leonardo e Gertrudes; que retrata uma pobre e mesquinha aldeia suíça.
Gertrudes, moradora de uma aldeia, atua com os seus filhos e os vizinhos nas artes domésticas, industriais, leitura, escrita, aritmética e outros estudos. Importantes figuras da época leram Leonardo e Gertrudes, mas não o consideraram como um tratado educacional.
Em 1792, Pestalozzi escreve o seu livro mais erudito: Minhas investigações sobre o curso da Natureza no desenvolvimento da raça humana. A obra é recebida sem entusiasmo. Pestalozzi decide ser mestre-escola. E parte para um trabalho na sua escola. O lar era para ele a melhor instituição de educação, base para a formação política, moral e religiosa. E a instituição educacional deveria se aproximar de uma casa bem organizada.
Na instituição de Pestalozzi, que contava com meninos e jovens, mestres e alunos permaneciam juntos o dia inteiro, dormindo em quartos comuns. O dia escolar era intenso e variado: rezavam, tomavam banho e faziam o desjejum, faziam as primeiras lições, havendo sempre um curto intervalo entre as mesmas. Almoçavam, brincavam e recomeçavam as aulas. Das 8 às 17 horas, as atividades, organizadas, eram desenvolvidas de maneira flexível. Duas tardes por semana eram livres ou os alunos faziam excursões. A organização da escola era simples, sendo que ficavam numa turma os que tinham menos de oito anos; e em outra, a classe inferior, ficavam os meninos de oito a onze anos e na superior, os de onze a dezoito anos.
Pestalozzi condenava a punição, as recompensas e punições. Problemas disciplinares eram discutidos, à noite.
Enquanto Pestalozzi introduzia tantas reformas educacionais, a Igreja, que controlava todas as escolas na época, não se preocupava em melhorar o seu padrão de qualidade. A situação que reinava era a seguinte: dava-se à memória um enorme valor, os professores não possuíam habilitação, as classes privilegiadas desprezavam o povo; os prédios escolares eram pouquíssimos.
A prática pedagógica de Pestalozzi sempre valorizou o ideal do educador, isto é, a educação poderia mudar a terrível condição de vida do povo.
A revolução suíça (1799) havia liberado a classe desprotegida e, segundo Pestalozzi, somente a educação poderá contribuir para que o povo conservasse os direitos conquistados.
Para Pestalozzi, o desenvolvimento é orgânico, sendo que a criança se desenvolve por leis definidas; os poderes infantis brotam de dentro para fora; os poderes inatos, uma vez despertados, lutam para se desenvolver até a maturidade; a gradação deve ser respeitada; o método deve seguir a natureza; o professor é comparado ao jardineiro que providencia as condições para a planta crescer; a educação sensorial é fundamental e os sentidos devem estar em contato direto com os objetos; a mente é ativa.

Pestalozzi

O DESENVOLVIMENTO MORAL SEGUNDO PIAGET




No aspecto moral, segundo Piaget, a criança passa por uma fase pré-moral, caracterizada pela anomia, coincidindo com o "egocentrismo" infantil e que vai até aproximadamente 4 ou 5 anos. Gradualmente, a criança vai entrando na fase da moral heterônoma e caminha gradualmente para a fase autônoma.
Piaget afima que essas fases se sucedem sem constituir estágios propriamente ditos. Vamos encontrar adultos em plena fase de anomia e muitos ainda na fase de heteronomia. Poucos conseguem pensar e agir pela sua própria cabeça, seguindo sua consciência interior.

ANOMIA
A : negação - NOMIA: regra, lei

HETERONOMIA
A lei, a regra vem do exterior, do outro

AUTONOMIA
Capacidade de governar a si mesmo


Na fase de anomia, natural na criança pequena, ainda no egocentrismo, não existem regras e normas. O bebê, por exemplo, quando está com fome, chora e quer ser alimentado na hora. As necessidades básicas determinam as normas de conduta. No indivíduo adulto, caracteriza-se por aquele que não respeita as leis, pessoas, normas.
Na medida em que a criança cresce, ela vai percebendo que o "mundo" tem suas regras. Ela descobre isso também nas brincadeiras com as criança maiores, que são úteis para ajudá-la a entrar na fase de heteronomia.
Na moralidade heretônoma, os deveres são vistos como externos, impostos coercitivamente e não como obrigações elaboradas pela consciência. O Bem é visto como o cumprimento da ordem, o certo é a observância da regra que não pode ser transgredida nem relativizada por interpretações flexíveis. De certa forma, a intolerância da Igreja, por qualquer interpretação diferente da sua, referente ao Evangelho, manteve a humanidade na heteronomia moral. O bem e o certo estavam na Igreja, no Estado e não na consciência interior do indivíduo.
A responsabilidade pelos atos é avaliada de acordo com as conseqüências objetivas das ações e não pelas intenções.
O indivíduo obedece as normas por medo da punição. Na ausência da autoridade ocorre a desordem, a indisciplina.
Na moralidade autônoma, o indivíduo adquire a consciência moral. Os deveres são cumpridos com consciência de sua necessidade e significação. Possui princípios éticos e morais. Na ausência da autoridade continua o mesmo. É responsável, auto-disciplinado e justo. A responsabilidade pelos atos é proporcional à intenção e não apenas pelas conseqüências do ato.
O processo educativo deve conduzir a criança a sair de seu egocentrismo, natural nos primeiros anos, caracterizado pela anomia, e entrar gradualmente na heteronomia, encaminhando-se naturalmente para a sua própria autonomia moral e intelectual que é o objetivo final da educação moral.
Esse processo de descentração conduz do egocentrismo (natural na criança pequena) caracterizado pela anomia, à autonomia moral e intelectual.
As atividades de cooperação, num ambiente de respeito mútuo, embasado na afetividade, preservam do egoísmo e do orgulho, auxiliando a criança no longo processo de descentração, conduzindo-a gradativamente da heteronomia para a autonomia moral. Um ambiente de medo, autoritarismo, respeito unilateral tende a perpetuar a heteronomia.


Do egocentrismo inicial a criança, gradualmente, vai "saindo" de si mesma, ampliando sua visão de mundo e percebendo que faz parte de um todo maior.
Gradualmente, aprende a cooperar, a respeitar e a amar o próximo.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Educação geográfica: Educação Humanista e ética




Estas ideias contemporâneas acerca da Educação são reflexo da complexidade que tem-se apresentado cotidianamente, de forma escalonaria, a todos os habitantes do planeta. Esta complexidade se apresenta na esteira do desenvolvimento cognitivo, social, cultural, político e econômico, com o avanço das técnicas, da ciência e do próprio saber humano. Se a educação moderna ensinou de forma fragmentada, pode a educação contemporânea ensinar de forma complexa?
Edgar Morin, um dos grandes expoentes do pensamento complexo, fez importante e bem veiculada reflexão, a pedido da Organização das Nações Unidas, sobre o que chamou de Os sete saberes necessários à educação do futuro (MORIN, 2001). Os sete saberes são: as cegueiras do conhecimento: erro e ilusão, os princípios do conhecimento pertinente, ensinar a condição humana, ensinar a identidade terrena, enfrentar as incertezas, ensinar a compreensão e a ética do gênero humano.
O que aprendemos destes saberes? Morin procura mostrar através deles que o conhecimento racional e limitado não consegue abarcar a complexidade do mundo, por isso este valor, complexidade, implica na busca do que chama de conhecimento pertinente, que é aquele que não causa repulsa nos estudantes, mas que possibilita-os apreender os problemas globais e fundamentais para neles inserir os conhecimentos parciais e locais. Nestes dois saberes, têm-se implícito a busca de um conhecimento não fragmentário, porém, não se deve buscar um conhecimento totalizador, pois este é tão limitado quanto o anterior. O conhecimento pertinente reconhece que, em meio à complexidade do real, não é possível nunca a compreensão total. É por isso, também, que a busca do conhecimento torna-se um esforço infinito.
Em vista disso, ensinar a condição humana é mostrar exatamente a complexidade inerente ao próprio ser humano. Morin mostra como o ser humano é, a um só tempo físico, biológico, psíquico, cultural, social e histórico. Neste sentido, o autor acredita que a condição humana deveria ser o objeto essencial de todo o ensino. Morin mostra que o que nos caracteriza e, por isso, deve estar presente na prática educativa, é nossa unidualidade, que implica nossa condição de ser a um só tempo plenamente biológico e plenamente cultural, e as relações indiciocráticas do indivíduo (na unidualidade cérebro-mente) com a sociedade (cultura), e as forças que agem entre razão/afeto/pulsão e as relações e interações entre indivíduo/sociedade/espécie. Não há como dissociar, no pensamento ou na prática educativa, cada uma destas esferas. O ser humano é este todo complexo, cada um uma unidade singular, impossível de ser duplicado na sua unidualidade. Ensinar a condição humana é atributo fundamental de uma educação humanista, tornando, assim, o “homem como a medida das coisas”.
Ensinar a identidade terrena insere-se como uma necessidade tanto ética quanto social. A importância deste saber está na confrontação atual de todos os seres humanos com os mesmos problemas de ordem planetária. Existem grandes questões que não podem ser resolvidos sem uma consciência de identidade planetária, que prescinde uma re-discussão dos pressupostos éticos firmados pela modernidade. O autor não salienta a sociedade global, no sentido do esfacelamento das fronteiras dos Estados-nação. Antes, a identidade terrena é um sentimento de pertença à espécie humana e, por isso, também compõe traço fundamental a uma educação humanista, que tem como fundamento o valor humano, como espécie, empreendido na sua “aventura” sobre a face deste planeta. Ensinar a identidade terrena possui um traço ético marcante, por focalizar a necessidade de considerar-se, cada um, habitante do planeta e este como sua pátria, imperando em todos um comportamento responsável e ético em todas as esferas, desde a política e social, até a cultural e ambiental.
Nesta Pedagogia da Complexidade Ambiental, está implícito e explícito o enfrentamento das incertezas. Morin aponta para o pensamento racionalista como tendo estabelecido uma ordem das coisas. Ordem que reclama certezas. Mas estas certezas não existem. O autor mostra que, em nossa sociedade, as pessoas têm de aprender a conviver com o incerto, com o duvidoso, com o risco e com a insegurança. A escola não pode passar uma falsa ilusão de que o mundo é composto por verdades estabelecidas e que sempre haverá alguém, como o professor, que possuiu todas as respostas estabelecidas desde há muito, buscando des-construir esta imagem ainda presente na sociedade. A educação deve abrir mão de seu estatuto de verdade.
Num mundo de incertezas, não se pode exigir tudo de quem nada pode afirmar. Portanto, Morin registra que é necessário ensinar a compreensão, valor ausente em nossa sociedade, mas que é a um só tempo meio e fim da comunicação humana. Eis um campo de estrema dificuldade, pois requer reforma de mentalidade. Uma Educação Humanista e ética necessita de compreensão, tanto do distante quanto do próximo. Desde o infinitamente semelhante ao infinitamente distinto. O ser humano precisa compreender-se e ele não fará isso se não compreender os outros seres humanos que habitam o mesmo planeta sob a mesma condição humana.
Para fundamentar esta compreensão, é necessário desenvolver a ética do gênero humano, chamada por Morin de “antropo-ética”. Contudo, o autor salienta que não é o caso de estabelecer lições de moral. Antes, esta implica no ensino da condição humana de forma a mostrar sua singularidade e sua identidade terrena, fundamentando a inter-relação entre todos e a necessidade de compreensão mútua. É o fundamento ético de uma sociedade planetária, humana e responsável.
A Pedagogia da Complexidade Ambiental deve evocar estes saberes, constituindo-se numa espécie de substrato de suas ações. Estes valores e saberes não precisam ser exaustivamente explicados. O mais importante é que estes sejam entendidos e internalizados para que sejam manifestos em nossas ações e pensamento. De nada resolve falar sobre a Pedagogia da Complexidade Ambiental aos alunos. É necessário que os professores tenham conseguido realizar a mudança mental do pensamento fragmentado para o pensamento complexo. Este é um dos caminhos para a Educação Humanista e ética.
A questão que paira a nossa frente é: como pode a educação geográfica internalizar estes valores? Através do Humanismo! Que humanismo? Como valor e orientação teórico-metodológica.
Anne Buttimer (1992), uma das principais referências da Geografia Humanística[5], em texto sobre os riscos e esperanças do Humanismo em Geografia, mostra como o Humanismo está presente na Geografia muito antes dos esforços da Geografia Cultural e da Geografia Humanística. Um dos valores humanistas abordados pela autora, a paideia, possui estreita vinculação com a Geografia desde os seus primórdios. A paideia é o descobrimento, combinando aspectos emocionais, estéticos e intelectuais na busca científica, promovendo o entendimento entre pessoas de todas as origens. Buttimer assinala que este propósito humanista é um exercício freqüente nos trabalhos de campo dos geógrafos, o qual faz parte da identidade da Geografia e é uma prática marcada desde a Geografia Tradicional. A autora salienta que a paideia é a própria atividade de campo, que leva os estudantes a um ambiente totalmente distinto da sala de aula: reuniões informais, a sensação de que seu professor mostra interesse, a possibilidade de manter uma conversação além do que é permitido na sala de aula. Desta forma, Buttimer (1992, p.43) destaca:
En el alma de la paideia descansa, pues, una forma especial de aprendizaje que agudiza el apetito en lugar de saciarlo; se quiere así despertar la conciencia acerca del contexto medioambiental de la experiencia humana. El creciente dominio del logos, de los cursos por escrito, ha tendido a ahogar una gran parte de ese descubrimiento, que fue fundamental en las expectativas originales de la geografía.

Pedagogia ambiental e pedagodia da complexidade: da tríade à Educação Humanista




Há um consenso entre aqueles que se dedicam a pensar a Educação: o Ensino Tradicional não é adequado à nossa sociedade contemporânea. Porém, a sua inadequabilidade não significa, necessariamente, que dele nada se aproveite. A tentativa de superação do tradicional foi empreendida por mais de uma forma de pensamento, que buscaram, através da negação do anterior, legitimar-se. Contudo, estas tentativas mostraram tantas lacunas quantas as deixadas pelo Ensino Tradicional. Este cenário é presente na Educação, em geral, e nas disciplinas específicas, em particular. A partir do desenvolvimento da Geografia no Brasil no século XX, podemos ter um quadro exemplificado deste processo como um todo. Neste contexto, discursamos acerca da possibilidade de uma educação geográfica conduzida pela Pedagogia da Complexidade e pela Pedagogia do Ambiente, necessárias para se pensar a complexidade e o ambiente na sociedade contemporânea, a partir da reflexão sobre o ensino da disciplina, composto por uma tríade de orientações teórico-metodológicas, em direção a uma educação ampla, responsável, humanista e ética.
Palavras-chave: educação geográfica, pedagogia da complexidade ambiental, educação humanista Entre os muitos desafios que nosso país deverá enfrentar neste milênio está a situação de nosso sistema de ensino e da Educação. Em vista disso, inúmeros intelectuais das mais diversas áreas do conhecimento, além de comunidades, políticos e a própria mídia, têm dedicado-se à sua discussão.
A problemática é ampla, o que justifica o esforço que tem sido despendido em pensá-la. A diversidade de pessoas ocupadas neste esforço reflete-se no amplo mosaico de pensamentos e contribuições, de diferentes naturezas (teóricas, reflexivas e práticas) e de diferentes orientações epistêmicas. Neste conjunto, há a preocupação com as políticas públicas, com a influência das políticas econômicas internacionais, com a formação dos professores, com a qualidade dos livros didáticos, com as tecnologias e metodologias de ensino, com os conteúdos organizados nos currículos e trabalhados em sala de aula, com a infra-estrutura das instituições, com os problemas psíquicos e emocionais dos alunos e dos professores, sua situação socioeconômica entre outras. Cada área do conhecimento e cada pesquisador contribui de acordo com suas habilidades e suas especificidades.
Neste ensaio, queremos contribuir em dois pontos centrais:
1. Pensar a Educação na sociedade contemporânea, buscando diminuir a distância existente entre o ensino desenvolvido nas escolas e a dinâmica da sociedade, a qual reestrutura-se a uma velocidade quase impossível de se acompanhar.
2. Discursar sobre um re-pensar do ensino considerado tradicional (leia-se, ultrapassado) para compor a Pedagogia da Complexidade que emerge hoje como um caminho plausível para uma Pedagogia do Ambiente e uma Educação Humanista e ética. Emergência apontada de forma intensa pelos engajados na Educação.
Desenvolveremos estas idéias a partir da Geografia e do ensino da disciplina no Brasil, resgatando a transição paradigmática do ensino tradicional à Geografia Crítica e a adoção recente da abordagem fenomenológica na Educação, compondo assim uma tríade de orientações teórico-metodológicas da educação geográfica nas escolas. Segue-se nossa construção da Pedagogia da Complexidade e da Pedagogia Ambiental, pensadas no âmbito geral da Educação. Encerramos estas notas refletindo sobre o porquê de, no contexto traçado aqui, trabalhar em prol de uma Educação Humanista e ética nos dias de hoje, não apenas em nossa disciplina, mas de uma forma ampla no cenário educacional.

A Suprema Inteligência




O primeiro interesse de Allan Kardec foi saber dos Espíritos quem era Deus e eles responderam dentro da maior simplicidade, mas com absoluta segurança: Deus é a Inteligência Suprema, causa primária de todas as coisas.

Não poderemos nos sentir seguros onde quer que estejamos, sem pelo menos alimentar a idéia de uma fonte criadora e imortal. O estudo sobre o Senhor nos dá um ambiente de fé que corresponde, na sua feição mais pura, à vontade de viver. Sentimos alegria ao entrarmos em contato com a natureza, pois ela fala de uma inteligência acima de todas as inteligências humanas, de um amor diferente daquele que sentimos, de uma paz operante nos seus mínimos registros de vida. O Deus que procuramos fora de nós está igualmente no centro da nossa existência, porque Ele está em tudo, nada vive sem a sua benfeitora presença.

O Criador estabeleceu leis na sua casa maior, que cuidam da harmonia na mansão divina, sem jamais esquecer do grande e do pequeno, do meio e dos extremos, para que seja dado, a cada um, segundo as suas necessidades. Não existe injustiça em campo algum de vida, pois cada Espírito ou coisa se move no ambiente que a sua evolução comporta; daí resulta o porquê de devermos dar graças por tudo o que nos é colocado no caminho.

É justo, entretanto, que nos lembremos do esforço individual, e mesmo coletivo, de sempre melhorar, como sendo a nossa parte, para alcançarmos o melhor. Aquele que acha que tem fé em Deus, mas que vive envolvido em lugares de dúvida, com companheiros que não correspondem às suas aspirações de esperança, ainda carece da verdadeira fé, iluminada pela temperatura do amor. É a confiança que requer reparo.

Assim sucede com todas as virtudes conhecidas e, por vezes, vividas por nós.

Estudemos a harmonia do Universo, meditemos sobre ela, pedindo ao Mestre que nos ajude a compreender esse equilíbrio divino, porque se entrarmos em plena ressonância com a Criação, sanar-se-ão todos os problemas, serão desfeitas todas as dificuldades e todos os infortúnios cessarão. Somente depois disso, pelas vias da sensibilidade e pelo porte espiritual que escolhemos para viver, é que teremos a resposta mais exata sobre que é Deus.

Conhecer e Amar são duas metas que não poderemos esquecer em todos os nossos caminhos. Estes dois estados dalma abrir-nos-ão as portas da felicidade, pelas quais poderemos viver em pleno céu, mesmo estando andando e morando na Terra. A Suprema Inteligência está andando conosco e falando constantemente aos nossos ouvidos, em todas as dimensões do entendimento, porém, nós ainda estamos surdos aos seus apelos e passamos a sofrer as conseqüências da nossa ignorância. Todavia, o intercâmbio entre os dois mundos acelera uma dinâmica sobremodo elevada a respeito das coisas divinas, para melhor compreensão daqueles que dormem, e o Cristo, como guia visível através das mensagens, toca os clarins da eternidade anunciando novo dia de libertação das criaturas, mostrando onde está Deus e que é Deus, que nos espera, filhos do seu Coração, de braços abertos, como Pai de Amor.


Livro Filosofia Espírita - Volume 1.Psicografia de João Nunes Maia

ATARAXIA




Você conhece a ataraxia, amigo leitor?
Se nunca a viu mais gorda, não se preocupe.
Raros ouviram falar dela.
Eu também, até ler algo sobre Epicuro (341-270 a.C.), filósofo grego, cujo nome está injustamente ligado à licenciosidade e à devassidão, no cultivo do prazer.

Ataraxia é a capacidade de manter-se sereno e tranquilo, diante dos contratempos e lutas da existência.

Exatamente o que todos almejamos, principalmente na época conturbada em que vivemos.
Epicuro ensinava que ela está associada ao prazer, não aquele sustentado pelo vício e a paixão, na exaltação dos sentidos.
Trata-se do prazer como sinônimo de bem-estar, superados os males do corpo e as perturbações da alma.
Explicava o filósofo:

O bem é fácil de conseguir, o mal é fácil de suportar, a morte não deve ser temida, os deuses não são temíveis.

Segundo Epicuro, a frugalidade está na base dessas realizações.
Comer quando se tem fome, beber quando se tem sede, superar a dor, sustentando a saúde do corpo com a moderação e o empenho por conservar a mente serena com o cultivo dos bons pensamentos.

Nada de vícios que adoecem o corpo.

Nada de paixões que adoecem a alma.

Os desvios da filosofia epicurista nasceram de um equívoco do filósofo.
Epicuro considerava que a alma perece com o corpo.
Por isso afirmava que não se deve temer a morte. Tudo terminaria na sepultura.
No entanto, fica difícil cultivar a virtude e a moderação sem admitir que a alma é imortal, que responderá um dia por suas ações.
Tudo me é lícito se concebo que não haverá conseqüências nem cobranças póstumas.

Na atualidade vivemos situação semelhante.
As religiões tradicionais recomendam o cultivo de valores espirituais, que sinalizam a ataraxia. Falta-lhes, entretanto, o essencial – a capacidade de motivar seus profitentes com uma visão objetiva da sobrevivência e da vida além-túmulo.
É tudo vago e fantasioso.
A fé sem compromisso com a racionalidade.
Por isso, as pessoas dizem crer, mas sem maior repercussão em seu comportamento.
O Espiritismo revive o pensamento epicurista num patamar mais elevado, estabelecendo contato com o mundo espiritual. A partir daí, demonstra ser indispensável a sobriedade para que não se complique o nosso futuro.
E não basta cultivar singeleza, na base do beber quando se tem sede, comer quando se tem fome, preservando o corpo; ou cultivar os bons pensamentos para a estabilidade da alma.
É preciso direcionar nossa existência no sentido de favorecer o bem dos outros, segundo a orientação evangélica:

Dar alimento ao que tem fome, agasalho ao que tem frio, medicação ao enfermo, instrução ao ignorante, consolo ao aflito, orientação ao transviado…

Servir sempre!

Esta a suprema realização, capaz de nos garantir o bem-estar na Terra e no Céu.
Experimente leitor, amigo!
Constatará algo admirável:

No empenho de servir está o mais legítimo caminho para a ataraxia.


Do livro Luzes no Caminho, de Richard Simonetti.

O Lema «Conhece-te a ti mesmo» não Leva a Nada de Proveitoso



Conhece-te a ti mesmo! — De que me há de servir? Se a mim me conhecesse, desatava a fugir. [...] Com isto confesso que a grande tarefa — Conhece-te a ti mesmo! —, que soa tão importante, sempre me pareceu suspeita, como um ardil de padres secretamente coligados que quisessem perturbar o homem por meio de exigências inatingíveis e desviá-lo da actividade no mundo externo para uma falsa contemplação interior. [... ] Cada novo objecto, bem observado, abre em nós um novo órgão. Do máximo proveito nesse sentido são, porém, os nossos semelhantes, que têm a vantagem de nos compararem com o mundo a partir de seu próprio ponto de vista, e por isso atingem um melhor conhecimento de nós que nós mesmos podemos alcançar.

Johann Wolfgang von Goethe, in "Parábolas, Sentenças, Provérbios"

terça-feira, 11 de maio de 2010

Psicanálise e Arte



As criações, obras de arte, são imaginárias satisfações de desejos inconscientes, do mesmo modo que os sonhos, e, tanto como eles, são, no fundo, compromissos, dado que se vêem forçadas a evitar um conflito aberto com as forças de repressão. Todavia, diferem dos conteúdos narcisistas, associais, dos sonhos, na medida em que são destinadas a despertar o inteesse noutras pessoas e são capazes de evocar e satisfazer os mesmos desejos que nelas se encontram inconscientes. À parte isto, fazem uso do prazer perceptivo da beleza formal, aquilo a que chamei um prémio-estímulo. Aquilo que a psicanálise foi capaz de fazer consistiu em captar as relações entre as impressões da vida do artista, as suas experiências causais e as suas obras e, a partir delas, reconstruir a sua constituição e os impulsos que se movem dentro dele. Não se deve julgar que o salaz que procura uma obra de arte se anule pelo conhecimento obtido pela análise. A este respeito é possível que o profano espere acaso demasiado da análise, mas deve advertir-se que ela não esclarece os dois problemas que são, provavelmente, os mais interessantes para ele: não esclarece quanto à natureza dos dotes do artista, nem pode explicar os meios de que o artista se serve para trabalhar a técnica artística.

Sigmund Freud, in 'O Pensamento Vivo de Freud'

Ensinamento a partir de experiências quotidianas



Lembro ainda tempos passados que nossos progenitores , pouco tempo tinham para se dedicar ao estudo escolar, as dificuldades de fazer coexistir a Familia sem fome , levava-os a ter que se desviar do circulo de aprendizado e ir ao encontro do ganha pão.
Mas na realidade percebe-se que o nosso irmão Comenius detinha em seu pensamento uma forma Universal e proporcional da realização daqueles que tinham as capacidades inteletuais , mas que estavam presos no tempo por o cumprimento das necessidades inerentes ao euqilibrio Familiar.
O Tratado de Bolonha, veio demonstrar que era enorme a Sabedoria , no concurso das suas lides com a Pedagogia, e quando ele afirmava como consequência das experiencias no quotidiano, tinha demosntrado um enorme bom senso e razão.
Os nossos antepassados , hoje presentes demonstram um enorme grau de sabedoria pela experiencia de suas vidas, mesmo sem a computorização , a assimilaçao à granmdeza dos valores educativos por estes , trazia muito , do aprendizado, no qual nos fazemos muito do apelo ao sucesso" È através do erro que bem o aprendizado, da presença efetiva da repetição dos movimentos que se aprende, e logo não só de força inteletual vive o sucdesso, mas da força exprimental,"" Grifos meus"
Poderei até estar enganado, mas penso que a pratica é das forma s mais didaticas de aprendizado, digamos que é uma dinamica crescente de pedagogia a espaços, mas que tem como efeito a excelene profissionalização tecnica dos valores humanos , na experiencia profissionalizante...Mesmo a nivel da defici~encia estes valores de crescimento se demostram, provando dessa forma que todos tem as mesmas probalidades de aprendizado, só com a diferença de possibilidade de meios, capacidades e vontade individual de cada Ser.

Cravo

Alegoria da Caverna




- Imagina agora o estado da natureza humana com respeito à ciência e à ignorância, conforme o quadro que dele vou esboçar. Imagina uma caverna subterrânea que tem a toda a sua largura uma abertura por onde entra livremente a luz e, nessa caverna, homens agrilhoados desde a infância, de tal modo que não possam mudar de lugar nem volver a cabeça devido às cadeias que lhes prendem as pernas e o tronco, podendo tão-só ver aquilo que se encontra diante deles. Nas suas costas, a certa distância e a certa altura, existe um fogo cujo fulgor os ilumina, e entre esse fogo e os prisioneiros depara-se um caminho dificilmente acessível. Ao lado desse caminho, imagina uma parede semelhante a esses tapumes que os charlatães de feita colocam entre si e os espectadores para esconder destes o jogo e os truques secretos das maravilhas que exibem.
- Estou a imaginar tudo isso.
- Imagina homens que passem para além da parede, carregando objectos de todas as espécies ou pedra, figuras de homens e animais de madeira ou de pedra, de tal modo que tudo isso apareça por cima do muro. Os que tal transportam, ou falam uns com os outros, ou passam em silêncio.
- Estranho quadro e estranhos prisioneiros!
- E, no entanto, são ponto por ponto tal qual como nós. Em primeiro lugar, julgas que percepcionarão outra coisa, de si mesmos e dos que se encontram a seu lado, além das sombras que na sua frente se produzem, no fundo da caverna?
- Que outra coisa poderão ver, pois que, desde o nascimento, foram compelidos a conservar a cabeça permanentemente imóvel?
- Verão, apesar disso, outras coisas além dos objectos que passam à sua rectaguarda?
- Não.
- Se pudessem conversar uns com os outros, não concordariam em dar às sombras que vêem os nomes dessas mesmas coisas?
- Sem dúvida.

- E se no fundo da sua prisão houvesse eco que repetisse as palavras daqueles que passam, não imaginariam que ouviam falar as sombras mesmas que desfilam diante dos seus olhos?
- Sim.
- E, por fim, não julgariam eles que nada existiria de real além das sombras?
- Não há dúvida.
- Pensa agora naquilo que naturalmente lhes aconteceria se fossem libertados das suas cadeias e se fossem elucidados acerca do erro em que estavam. Liberte-se um desses cativos, e que ele seja obrigado a levantar-se imediatamente, a voltar a cabeça, a andar e a enfrentar a luz: nada disso poderá fazer sem grande esforço; a luz encandear-lhe-á a vista e o deslumbramento produzido impedi-lo-á de distinguir os objectos cujas sombras via antes. Que julgas tu que responderia se lhe dissessem que até então apenas vira fantasmas e que agora tem ante os olhos objectos mais reais e mais próximos da verdade? Se lhe mostrarem imediatamente as coisas à medida que se forem apresentando, e se for obrigado, à força de perguntas, a dizer o que é cada uma delas, não ficará perplexo e não julgará que aquilo que dantes via era mais real do que aquilo que agora se lhe apresenta?
- Sem dúvida.
- E se o obrigassem a enfrentar o fogo, não adoeceria dos olhos? Não desviaria os seus olhares, para dirigi-los para a sombra, que enfrenta sem dificuldade? Não julgaria que essa sombra possui algo de mais claro e distinto do que tudo quanto se lhe mostra?
- Certamente.
- Se agora o arrancarmos da caverna e o arrastarmos, pela senda áspera e fragosa, até à claridade do Sol, que suplício o seu por ser assim arrastado! Como está furioso! E, uma vez chegado à luz livre, os olhos ofuscados com o fulgor dela, poderia ver alguma coisa da multitude de objectos a que chamamos seres reais?
- De início ser-lhe-ia impossível.
- Necessitaria de tempo, sem dúvida, para se acostumar a eles. Aquilo que distinguiria melhor seria, em primeiro lugar, as sombras; e, logo a seguir, as imagens dos homens e dos mais objectos, reflectidos à superfície das águas; por fim, os próprios objectos. Daí volveria os olhos para o céu, cuja visão suportaria com maior facilidade durante a noite, à luz da Lua e das estrelas, do que durante o dia, à luz do Sol.
- Sem dúvida.
- Por fim, encontrar-se-ia em condições, não só de ver a imagem do Sol nas águas e em tudo aquilo em que se reflicta, como de olhá-lo e contemplar o verdadeiro Sol no seu verdadeiro local.
- Sim.
- Depois disto, pondo-se a reflectir, chegaria à conclusão de que o Sol é o que determina as estações e os anos, e o que rege todo o mundo visível e que, de certo modo, é causa daquilo que se via na caverna.
- É evidente que chegaria gradualmente a tais reflexões.
- E se, então, se recordasse da sua primeira habitação e da ideia que aí formavam da sabedoria, ele e os seus companheiros de escravidão, não se regozijaria com a mudança e não teria compaixão da desgraça daqueles que permaneciam cativos?
- Certamente.
- Crês tu que agora ele sentisse ciúmes das honras, das vaidades e recompensas ali outorgadas àquele que mais rapidamente captasse as sombras, àquele que com maior segurança recordasse as que iam atrás ou juntas e por tal razão seria o mais hábil em prever a sua aparição, ou que invejasse a condição daqueles que na prisão eram mais poderosos e mais honrados? Não preferiria, como Aquiles, segundo Homero, passar a vida ao serviço dum pobre lavrador e sofrê-lo, a voltar ao seu primeiro estado e às suas primitivas ilusões?
- Não duvido de que preferiria suportar todos os males possíveis a voltar a viver de tal modo.
- Atenta, pois, nisto: se regressasse novamente à sua prisão, para voltar a ocupar nela o seu antigo posto, não se acharia como um cego, na súbita passagem da luz do dia para a obscuridade?
- Sim.
- E se, no entanto, ainda não distinguisse nada e, antes que os seus olhos se houvessem refeito, o que apenas poderia acontecer depois de muito tempo, tivesse de discutir com os mais prisioneiros sobre essas sombras, não se tornaria ridículo aos olhos dos outros, que diriam dele que, por ter subido até lá acima, perdera a vista, acrescentando que seria uma loucura o eles pretenderem sair do lugar onde se encontravam, e que, se alguém se lembrasse de tirá-los dali e levá-los para a região superior, se tornaria necessário prendê-lo e matá-lo?
- Indiscutivelmente.
- Pois, meu querido Glauco, é essa, precisamente, a imagem da condição humana. A caverna subterrânea é este mundo visível; o fogo que a ilumina, a luz do Sol; o prisioneiro que ascende à região superior e a contempla é a alma que se eleva até à esfera do inteligível. É isto, pelo menos, o que penso, já que o queres conhecer, mas só Deus sabe se é certo. Pelo que me toca, a coisa afigura-se-me tal como te vou comunicar. Nos últimos limites do mundo inteligível encontra-se a ideia do bem, que só com dificuldade se percebe, mas que, todavia, não pode ser percebida sem que se conclua que ela é a causa primeira de quanto há de bom e de belo no universo; que ela, neste mundo visível, produz a luz e o astro do qual a luz irradia directamente; que, no mundo visível, engendra a verdade e a inteligência; que é preciso, enfim, ter os olhos fitos nessa ideia, se quisermos conduzir-nos honestamente na vida pública e privada.
- Na medida em que pude compreender a tua ideia, concordo contigo.
- Tens, pois, de admitir e não estranhar que aqueles que alcançaram essa sublime contemplação desdenhem da intervenção nos assuntos humanos e que as suas almas aspirem, incessantemente, a fixar-se nesse lugar eminente. Assim deve ser, se isto está em conformidade com a pintura alegórica que esbocei.
- Assim deve ser.

Platão, in 'República'

A crise ética




Fragmentação do sujeito, nadificação da verdade, ausência de sentido, ininteligibilidade das coisas, irracionalidade do discurso — esses são os traços predominantes do século XX, sem aparentes
perspectivas de qualquer segurança ou conforto no limiar do XXI. Tudo isso, evidentemente, gerou uma crise de valores, sem precedentes na história humana. Jacqueline Russ se refere a um "vazio
ético": "Vivemos num momento em que as referências tradicionais desapareceram, em que não sabemos mais exatamente quais podem ser os fundamentos possíveis de uma teoria ética. O que é que, hoje, nos
permite dizer que uma lei é justa? Nós o ignoramos. É num vazio absoluto que a ética contemporânea se cria, nesse lugar onde se apagaram as bases habituais, ontológicas, metafísicas, religiosas da ética pura ou aplicada. A crise de fundamentos que caracteriza todo nosso universo contemporâneo, crise visível na ciência, na filosofia ou mesmo no direito, afeta também o universo ético. Os próprios fundamentos da ética e da moral desapareceram. No momento em que as ações do homem se revelam grávidas de perigos e riscos diversos, estamos precisamente mergulhados nesse niilismo, essa relação com o 'nada', do qual Nietzsche foi, no século passado, o profeta e o clínico sem igual."
A partir desta constatação, Russ busca delinear o que seriam as propostas éticas que se põem no mundo contemporâneo. Da mesma maneira, busca-se a resposta a esse impasse num diálogo entretido
entre Umberto Eco e o cardeal Carlo Maria Martini, diálogo no qual intervieram outros interlocutores, procurando argumentos para responder ao cardeal sobre "o fundamento último da ética para um
leigo, no quadro 'pós-moderno'." Havia indagado Martini:
"Concretamente: em que se baseia a certeza e imperatividade de seu agir moral que não pretende fazer apelo, para fundar o absolutismo de uma ética, a princípios metafísicos ou, de qualquer modo, a valores transcendentes e sequer a imperativos categóricos universalmente válidos?" E as respostas são as mais discrepantes entre si.
Após observar com propriedade, na mesma linha das obras acima que: "O famoso 'fim das ideologias', que em toda parte é proclamado como a boa nova que modela o 'retorno da ética', significa de fato a
adesão às trapaças da necessidade e um empobrecimento extraordinário do valor ativo, militante, dos princípios", Alain Badiou também ensaia uma proposta ética para a contemporaneidade.
Esses livros citados são exemplos de um quadro geral. Após a perplexidade angustiada, procura-se um remédio ético para orientar o agir humano, já que até mesmo Nietzsche reconhecia a necessidade de
valores. Mas a multiplicidade, a complexidade e, muitas vezes, a inconsistência dos discursos deixam o sabor amargo de que é bem difícil arranjar uma ética que sirva concretamente ao agir humano,
sobre os escombros do sujeito autônomo, trucidado pelos pós-modernos.
Reconhece Badiou: "Se não há ética 'em geral', é porque falta o sujeito abstrato, aquele que deveria possuí-la. Não há senão um animal particular, convocado pelas circunstâncias a se tornar sujeito. Ou melhor, a entrar na composição de um sujeito."
Não há como dissociar proposta ética de concepção de homem. E se o homem está morto, onde enraizar qualquer concepção de ética?
Por mais se debatam os que pensam o mundo esvaziado de sentido,

142 RUSS, Jacqueline. Pensamento ético contemporâneo. São Paulo, Paulus,
1999, p. 10.
143 ECO, Umberto & MARTINI, Carlo Maria. Op. cit., p. 69.
144 BADIOU, Alain. Ética, um ensaio sobre a consciência do mal. Rio de
Janeiro, Relume-Dumará, 1995, p. 45.

Não há Descoberta sem Violência



Devemos a quase totalidade das nossas descobertas às nossas violências, à exacerbação do nosso desequilíbrio. Mesmo Deus, na medida em que nos intriga, não é no mais íntimo de nós que o discernimos, mas antes no limite exterior da nossa febre, no ponto preciso em que, confrontando-se a nossa ira com a sua, se produz um choque, um encontro tão ruinoso para Ele como para nós. Ferido pela maldição que se liga aos actos, o violento só força a sua natureza, só se ultrapassa a si próprio, para a ela regressar, furioso e agressor, seguido pelas suas empresas, que o punem por as ter feito nascer. Não há obra que não se volte contra o seu autor: o poema esmagará o poeta, o sistema o filósofo, o acontecimento o homem de acção. Destrói-se quem, respondendo à sua vocação e cumprindo-a, se agita no interior da história; apenas se salva aquele que sacrifica dons e talentos para, desprendido da sua qualidade de homem, poder repousar no ser. Se aspiro a uma carreira metafísica, não posso por preço algum conservar a minha identidade: terei de liquidar o menor resíduo que dela possa guardar; se, pelo contrário, escolho a aventura de um papel histórico, a tarefa que me cabe é a de exasperar as minhas faculdades até explodir eu próprio com elas. Parece-se sempre pelo eu que se assume: ter um nome é reivindicar um modo preciso de ruína.

Emil Cioran, in 'Pensar Contra Si Próprio'

Nós somos violentos




A violência faz-se passar sempre por uma contra-violência, quer dizer, por uma resposta à violência alheia
Jean-Paul Sartre



A violência advém sempre da interiorização dos nossos intintos, pois toda ela se propaga pela busca do arbitrio de nós mesmos, perante as situações.
A violência aparece pela procura de poder acima das nossas valias e detem-se nos conceitos da presunção e do absolutismo exacerbado, que perfila no pensamento afinizado pela falta ou cobiça de cada Ser humano.
Quando no caminho das nossas ações encontramos pressões depressa exteriorizamos sentimento de revolta , de vingança ou de inalação mental negativa.
Quem olha à nossa volta , verificamos como nos tempos contemporaneos o restabelecimento de valores se fizeram pela força do poderio belico, politico, economico e religioso.Porém as estruturas sociais começaram a entrar em rotura entre elas, as armas não deixam de atemorizar, mas a palavra faz inudar o tedio , a angustia e a intranquilidade.
Os jogos de bastidores são por demais evidentes, nem justiça, nem razão, apenas vontade de suplantar.
Os carrilhões sexuais também lhe tomam a inconstancia, se os sentimentos apagam-se pela volutptividade,tudo será sempre relacional pelas consequências que daí advém.
A expressão educativa cai por terra quando queremos culpabilizar, o que é um efeito do desmenbramento de valores. Onde existe a falta aparece a revolta, onde existe o excesso a estragação , o facilitismo e o que devia segurar a razão , passa a ser apenas o sentido da falta ,do vazio da inoperância.
Querem ter muito por pouco, criar sem pensar, fazer sem analisar, ou seja tudo se move inconsequentemente, e não existem celulas que resistam.
A violência saí realmente de nós , pois somos nós que produzimos o efeito, e quando se entra no desconhecimento das barreiras, ele pode ser cada vez mais mais perigoso.
Os estratos sociais, o desemprego, miseria, aglutinação ao nivel de raças, orque ela existe, nem que nós pensemos ou inventemos que não!
Os muitos que tem , não partilham, com as multidões que não oferem de meios, daí fala-se de conflitos geracionais, de grupos e descontentamento, daqueles que se sentem num Mundo aparte, é aqui que o colapso acontece...
Não estamos a falar de um holocausto, mas diria que preparamos a interiorização do mesmo, pela fragilidade de valores existentes na nossa estadia conciencial , por isso vivemos, pelas palavras e atos em constante violência.

Façam uma reflexão e verifiquem se não estamnos em preparação de um novo campo sectario de porporções dantescas! O hoje já não se admite e o amanhã aerá mais pesado para todos...olhem as estatisticas...

Cravo

segunda-feira, 10 de maio de 2010

O pulpito Papal e a Opulência




O Mundo continua às avessas!
Porquê, questionam vocês?
A razão mostra-nos todos os dias que a corrupção não é só económica, mas também mental.
Num tempo em que o desemprego sob a catadulpas, a fome aumenta e os pobres são cada vez mais pobres, assistismos a vergonhosas demonstrações de puro excesso e desrespeito pelos valores da vida e do amor.
Quem pode seguir o clero catolicista, com tanta luxuria na sua envolvência?
A demência está cada vez maior , pois a vinda de sua Santidade, demonstra o quanto de ignorância existe naqueles que estendem o tapete à sua passagem?! Oferecem ouro, criam fatiotas de dislumbre, pintam pratos a ouro...sinceramente...será que Jesus era isto que oferecia ao seu Povo?
Será que entrava em masoleus de riqueza exacerbada...na Biblia e na sua história não vejo algo que se aponte , mas sim humildade, amor e caridade em toda a escala.
Mas para a falange clerical e seus seguidores, o que importa é isso mesmo, grandezas, no meio de fome, abusos sexuais no meio angelical que eles pregam!? Claro que não será no geral, mas o é no seu seio que apregoa a paz entre dentes e omite a realidade religiosa , que como sempre se faz presente, no seu dogmatismo, e mostram aos outros a face da sua misericordia , quando nem com eles são capazes de o ser...
Não sou ateu, nem agnosto, mas sou um ser humano que sente aquilo que o envolve , e da-me asco ver tanta falta de respeito pelos carentes...
Estendem mantos de rosas aos senhores das opas refinadas, juntam-lhes os palos para não ferir as suas peles e isso para mim transmite-me a essência da vergonha , por é o odor daqueles que fazem dum dito escolhido, um Deus, quando na realidade, não passa do espelho da mentira...
Podem até não concordar, mas será este o caminho da felicidade que pregam?Será esta forma de vida de extase pomposo e opulente que Deus quer para todos ?
Quem pode ter a coragem de propalar amor e caridade, quando reiteram ser Senhores da verdade? Só se for da materialidade, porque de valores cristicos pouco ou nada tem!
Não é desta forma que vejo a fé, não sou pretensioso, mas respeito aqueles que seguem esse credo, e entendo que mereciam mais respeito!
Que o Papa nos visite, caminhe no seio dos seus fiéis, mas que o faça sem a vergonha da riqueza que envolve toda a sua casta eclisiastica , que esteja no Povo, mas com simplicidade e amor no coração e não com o contra-senso que só o beatismo cego não vê, porque tal como o futebol virou opio do Povo...
Se querem seguidores, sejam simples, ajudem-se mudando o caminho redentor da riqueza em que vivem, lembrando que o Cristo e Deus vê todos como irmãos....

Cravo